FRACOS ARGUMENTOS
DA RAVE
15 minutos ⇔ 1,5 milhões de passageiros
Rui Rodrigues
Site: www.maquinistas.org (Ver Opinião)
Público: 19 de Novembro de 2007
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FRACOS ARGUMENTOS DA RAVE
A RAVE, empresa que está a estudar a nova rede de Alta Velocidade (AV) e
Velocidade Elevada (VE), publicou a sua opinião, em vários jornais, sobre propostas
alternativas à nova rede ferroviária. Neste trabalho, por falta de espaço, só serão discutidas
questões relacionadas com conceitos incorrectos e sobre o ponto de maior divergência que é
a utilização, ou não, da margem esquerda do Tejo (leste do rio) para o futuro traçado da rede.
ARGUMENTOS DA RAVE
A RAVE afirmou que não se deveria escolher a margem esquerda do Tejo (leste do
rio) porque isso aumentaria a distância total, entre Lisboa e Porto, em 40 Km, o que
provocaria um aumento de 15 minutos no tempo de viagem, maior consumo de energia, que,
multiplicado por inúmeras viagens durante décadas, aumentaria substancialmente os custos.
Foi dito, até, que esses 15 minutos poderiam provocar a perda de 1,5 milhões de
passageiros por ano.
Acontece que as receitas de exploração de uma linha dependem sobretudo do seu
tráfego e do custo dos bilhetes. As despesas vão depender, sobretudo, da manutenção do
material circulante, das infra-estruturas e do pessoal. Os custos de energia são inferiores a
5% do total porque o comboio de AV, quando atinge Vmáx. a sua energia cinética é
Ec=½mV2. Este valor é tão alto aos 300 Km/h que lhe permite percorrer parte dessa
distância sem gasto de energia, porque o atrito nos carris é muito baixo.
A maior despesa é, sem dúvida, no pessoal especializado e nos custos de
manutenção do material circulante. Em Espanha e França, os operadores têm contratos com
o fabricante, que lhes garantem assistência durante os 365 dias do ano. No caso espanhol,
a Renfe, após a compra dos seus comboios, efectuou um contrato de manutenção que, com
a duração de 14 anos, período ao fim do qual se efectua uma renovação de todo o material,
pode, ou não, renovar o mesmo contrato por mais 14 anos. O tempo de vida de cada
comboio é de cerca de 30 anos.
O custo de manutenção anual, por cada comboio de AV, é de cerca de 1,35 milhão de
euros (270 mil contos). Para os de Vmáx, 250 Km/h, são 778 mil euros (156 mil contos). O
número de quilómetros percorridos por comboio é independente do valor do contrato.
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Aliás, no AVE Madrid-Sevilha, desde que se iniciou a sua exploração, em 1992, os comboios
percorrem, actualmente, muito mais quilómetros.
Afirmar que o aumento de 15 minutos de viagem vai provocar a redução de 1,5
milhões de passageiros anuais é um absurdo porque, quando um modo de transporte passa
a ser mais competitivo que os restantes, o tempo de viagem é secundário. Podemos
perguntar até, para onde iriam os 1,5 milhões de passageiros referidos?
A atracção de tráfego por parte do comboio depende de vários factores importantes:
bom serviço de bordo, frequência, isto é, número de comboios por dia, preço dos bilhetes,
tempo de viagem, bons acessos e conforto das estações etc.
Na ligação Madrid-Valência, o comboio Alaris, que é igual ao Alfa Pendular,
conseguiu retirar tráfego aos restantes modos de transporte, sobretudo, devido à qualidade
do serviço de bordo oferecida, apesar de não ser competitivo, em tempo de viagem, com o
automóvel nem com o avião.
Entre Lisboa e Porto, uma viatura particular demora, em média, cerca de 2,5h a 3h.
Para o avião, caso se contabilize o tempo médio de espera e deslocação para o centro da
cidade, são 2h a 2,5 h. O preço do bilhete de avião é muito superior ao do comboio.
Se fossem utilizadas as teorias da RAVE, então, ter-se-ia assistido a um gigantesco
aumento de tráfego no Alfa Pendular quando este comboio, recentemente, reduziu o tempo
de viagem em cerca de 15 minutos. Infelizmente, nada disso ocorreu. Aliás, poder-se-iam
reduzir mais outros 15 minutos, bastando para isso eliminar as paragens em Coimbra,
Aveiro e Gaia, uma vez que só Lisboa e Porto geram quase 75% do tráfego total.
Finalmente, caso se considere a velocidade média de um comboio de AV (225 Km/h),
o tempo perdido para 40 Km nunca seria de 15 minutos. Pelo que foi anteriormente descrito,
os argumentos invocados pela RAVE não têm sentido.
ERROS DE CONCEITO
A maioria dos responsáveis da RAVE, que já passaram pela empresa, têm tido como vício
de raciocínio pensarem a nova rede só do ponto de vista dos passageiros, quando a nova rede de
bitola (distância entre carris) europeia deve ser projectada a pensar no transporte de mercadorias
de Portugal para a U.E. o que não é possível através da rede existente de bitola ibérica.
A Espanha vai construir linhas mistas de bitola europeia, que vão ser colocadas na
nossa fronteira em 4 pontos: Vigo, Salamanca, Badajoz e Huelva, sendo a de Badajoz em
AV e as restantes em VE. O país vizinho já decidiu que, no ano de 2020, toda a sua rede
ferroviária convencional e de AV será exclusivamente em bitola standard.
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Evidentemente que, se a Espanha nos coloca linhas mistas de bitola europeia nos 4
pontos referidos, só nos resta prolongar as mesmas até aos nossos portos e restante
território, evitando assim uma duplicação de construção de vias. Ao contrário, se existissem
linhas só para passageiros e outras só para mercadorias, então, para unir esses nós à futura
rede, era necessário construir duas linhas paralelas, em vez de só uma.
PORQUÊ UTILIZAR A MARGEM ESQUERDA?
Para transportar contentores, em bitola europeia, desde a Galiza e Norte de Portugal
ou de Salamanca para os nossos portos do sul como Sines e Setúbal e vice-versa, será
necessário utilizar a margem esquerda do rio Tejo (leste).
A linha de bitola europeia, projectada pela RAVE, de Lisboa ao Porto, só foi pensada
para passageiros, já que as pendentes definidas não são inferiores a 18 metros por mil,
como é necessário nas linhas mistas.
NOTA
Se fosse escolhida a localização errada da Ota, a construção de uma linha mista, do
ponto de vista da logística, obrigaria a transportar contentores pelo centro de Lisboa para os
deslocar para os portos do sul ou Badajoz e vice-versa.
Se o futuro aeroporto fosse na margem sul e a nova linha Lisboa-Porto utilizasse a margem
esquerda do Tejo (a leste do rio), estes problemas seriam solucionados.
OTA
Não terá sentido pôr as
mercadorias a circular no interior
de Lisboa, em direcção aos
portos do Sul e na futura rede
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A nova via Lisboa-Porto deveria seguir pela margem esquerda do Tejo, por ser uma
região plana e paralela à A13, e por ter pouca ocupação urbana. Continuaria pelo importante
nó do Entroncamento, para se unir à Linha da Beira Baixa, pela Caranguejeira (nó entre a
A1 e a A8 e união da nova linha Lisboa–Porto, da linha do Norte e da linha do Oeste), com
ligação à linha do Norte.
A futura estação de Leiria deveria estar perto do Nó rodoviário, A1-A8-IC2 e nó ferroviário L. Oeste-L.Norte e AV
Este nó dará acesso directo
a Fátima, Leiria, Pombal e
M. Grande. Futura estação
deveria ser próxima deste nó
Ponto estratégico:
União da A1 - A8 Linha de AV
Exemplo de nó rodo-ferroviário
Gare de aix-en-provence
Seguiria pelo nó da Pampilhosa, continuando por Aveiro, com estação também
comum à da linha do Norte e à via Aveiro-Salamanca. Prosseguiria para Gaia e Porto–
Campanhã, onde as estações serão comuns, conectando com o aeroporto de Pedras
Rubras, porto de Leixões e com Vigo.
Linha de AV (amarelo) deveria
ser paralela à A13 para minorar
o impacte ambiental e por ser
uma região plana. Poder-se-iam,
assim, poupar milhares de
milhões de euros se o traçado
escolhido entre Pombal e Lisboa
for pelo Leste do Rio Tejo.
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OUTRAS QUESTÕES
A RAVE anunciou que foi estudado um canal para a ligação Lisboa-Porto, que
acompanha a Linha do Norte durante 2,5 Km, a seguir à Gare do Oriente, até passar por baixo
da Ponte Vasco da Gama. Neste ponto, as vias divergem para o comboio de AV seguir, em
túnel, até perto de Alenquer. Este túnel pode ter um custo de 1000 milhões de euros ou mais.
Foi dito também, que a futura estação de Lisboa será na Gare do Oriente. Acontece que esta
não poderá ser estação terminal por falta de espaço e por ser um apeadeiro. A estação de
Lisboa deveria possuir uma plataforma de, pelo menos, 400 metros de comprimento, para
possibilitar o acoplamento de comboios duplos, o que permitirá aumentar para o dobro a
capacidade da mesma linha. A Gare do Oriente não possui estas características.
A Norte da Gare do Oriente não existe espaço para construir mais duas vias. Caso a
RAVE tenha solução para o problema, então publique a solução para tirar todas as dúvidas.
Apeadeiro de Moscavide. Está a 800 metros a norte da G.Oriente. Custou 5 milhões de euros e nem
sequer estava prevista a sua construção quando se iniciou a modernização da
Linha do Norte
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Na foto, em cima, vê-se a entrada para a G. Oriente no sentido Norte-Sul. Colocar mais duas vias será
um problema de difícil resolução. Na foto, em baixo, podemos confirmar que o comprimento da plataforma da
G. Oriente é inferior a 400 metros, o que não permite o acoplamento de comboios duplos.
CONCLUSÃO
A RAVE, em vez de criticar na Imprensa as opiniões construtivas, deveria publicar na
Internet projectos de engenharia que demonstrem que as suas ideias são as melhores, pois,
desde o ano 2000, nunca apresentou nenhum projecto de execução.
Rui Rodrigues Email: rrodrigues.5@netcabo.pt Site: www.maquinistas.org
Gare do Oriente custou 250 milhões de
euros. Na linha 1 da plataforma, no
Inverno, os passageiros suportam frio e
chuva e, no Verão, um sol intenso que
incide quase durante todo o dia.
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Alcobaça: Movimento anti-TGV denuncia erros técnicos do projecto
Data: 09-02-2008
Ataíja de Baixo, Leiria, 09 Fev (Lusa) - Dirigentes do movimento ATAC (Amigos da Terra por Amor à Camisola) denunciaram hoje em Alcobaça aquilo que consideram ser erros técnicos da linha de TGV entre Lisboa e Coimbra, que ignora locais de relevo ambiental e patrimonial.
"Ainda hoje estivemos em grutas não referenciadas pela RAVE (empresa que gere o processo) e que vão ficar destruídas pela linha", afirmou Noémia Rodrigues, que acusa os promotores de optarem pela solução técnica "mais barata" sem ligar às populações e localidades divididas
O movimento tenciona avançar com uma acção judicial contra o Estado, "se possível até nas instâncias europeias", pelo que irá apresentar uma contestação ao projecto da RAVE, com recurso a "pareceres técnicos que estão a ser reunidos".
Hoje de tarde, o ATAC realizou uma sessão de esclarecimento na localidade de Ataíja de Baixo, Alcobaça, onde elencou os riscos ambientais do projecto, bem como os prejuízos causados às populações.
Na reunião, esteve presente João Salgueiro, presidente da Câmara de Porto de Mós (PS), que também defendeu uma opção diferente para o traçado.
"Das propostas em cima da mesa, a solução que vai ser adoptada é que menos penaliza Porto de Mós" mas João Salgueiro mostra-se solidário com as queixas do concelho vizinho de Alcobaça, considerando que a tutela deveria atender às reivindicações das populações.
Uma solução que iria contentar todas as partes seria a construção do TGV entre o IC2 e a serra dos Candeeiros, criando um novo limite para o Parque Natural e "libertando" a envolvente da estrada nacional para um "correcto ordenamento do território".
"Neste momento, o limite do parque é a estrada que parece mais um estaleiro de obras mas onde nós não podemos intervir", lamentou João Salgueiro.
Em curso está uma petição a enviar ao Parlamento promovida pelas freguesias mais atingidas pelo traçado que já conta com milhares de assinaturas.
"Na minha freguesia são destruídas dez casas e há várias terras divididas", afirmou José Lourenço, presidente da Junta de Prazeres de Aljubarrota, que se queixa de nunca ter sido ouvido pelos promotores do traçado.
"Nós queremos que haja um estudo comparativo a leste e a oeste da Serra dos Candeeiros" porque "não aceitamos que nos imponham uma solução única", acrescentou.
As autarquias defendem que a linha do TGV, a ser construída, deverá ser instalada junto ao corredor da A1 ou da Linha do Norte em vez de criar um novo "corredor que vem trazer mais problemas".
Amílcar Raimundo, da Junta de São Vicente, concorda e acredita ainda que a eventual escolha de Alcochete para acolher o novo aeroporto de Lisboa possa desviar a linha para este.
"O TGV fazia sentido a partir da Ota mas assim já não sei", explicou Amílcar Raimundo.
Valdemar Rodrigues, um engenheiro ambiental que trabalhou na RAVE, considerou que é uma "péssima solução construir um novo canal de alta velocidade" quando já existem outros transportes alternativos.
"Do ponto de vista ambiental e social é um projecto totalmente irracional", sustentou.
Já os ambientalistas, que estiveram hoje numa sessão de esclarecimento em Ataija de Cima, também contestam a construção da linha.
José António Gaspar, dirigente regional da Quercus (que deu um parecer negativo ao traçado), recorda que a linha vai afectar uma zona ambiental muito sensível nas nascentes do rio Alcoa, com colónias de vários animais (entre as quais uma espécie de águia e lontras) e fauna protegida (carvalhal e azinhal).
O presidente da Associação de Defesa do Ambiente e do Património de Alcobaça (ADEPA), Carlos Mendonça, classificou de "crime" a construção do TGV nesta zona, criticando mesmo a opção de uma linha entre Lisboa e Porto.
"Não acreditamos que alguma vez venha a ser rentável", acrescentou o dirigente, que aponta a riqueza arqueológica do local como uma das questões mais sensíveis.
Na ribeira do Mogo, existem "13 grutas referenciadas" com ocupação neolítica, cujo levantamento arqueológico ainda não foi concluído, salientou ainda Carlos Mendonça.
Fonte: © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
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In Portal do Cidadão, 11-Fev.-2008, 03:00H (http://www.portaldocidadao.pt/PORTAL/pt/noticias/noticias_ticker)
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